É dor.
Do não ter, do querer, do precisar.
O sangue que corre, o tempo que voa,
anestesiado. Até entrar em contato com a pele,
aquela pele, tão sua conhecida.
Um pulso. Fracionado em centenas, basta.
Subverte inércia em eletrecidade, faz tremer.
Cria caos, confunde de simples que é,
devasta.
E do desprevinido, que sempre 0 foi, toma em cheio
as distrações e esbofeteia-lhe a face, pois tão simples,
tão rápido, tão incauto,
tão alheio, que engana. Nunca seu.
Ele desliza lépido pela grama, tão distante,
impossível de alcançar,
e angustiante de almejar. É dor.
"
Melancólico.
23.3.12
Sentou no ônibus, chovia na janela e o céu de Botafogo se diluía na tarde fresca. O vento batia forte, e com ele, a música que falava de um futuro a dois a fez fechar os olhos. Estava tão clichê nas últimas semanas. Vendo em todos os rostos o verde-água que queria para si. Sentiu inveja. Esse vento livre que passava por todas as casas e abraçava todos os pedestres, destemido, a fez lembrar dos sonhos que eles criaram um dia.
Pensou no abraço que ela não sentia a meses e que fazia tanta falta. Saudade que dói, que faz querer voltar o tempo, prolongar o beijo e o jeito que ele a olhava enquanto sussurava a música deles. Nunca pensou que seria capaz de sentir tanta Falta.
A chuva caía lá fora, e ela quis se encaixar naquele abraço quente. Quis deitar na cama e dividir fones, ir ao parque falar sobre nuvens e livros e sonhos, lembrar do passado e fazer planos de casas amarelas, dormir abraçado, ter dois filhos e uma estante de vinis. Quis que ele risse do seu jeito perdido e a ensinasse a amar de novo.
Desceu do ônibus, a música acabou e ela tinha esquecido o guarda-chuva. Quis que a garoa passasse, e que a saudade, com ela, fosse embora e trouxesse de volta o sorriso que queria beijar de novo.
"