Ela vive sozinha. A filha, aos 17 anos engravidou e foi morar com o namorado em uma quitinete, e ex-marido sumiu a anos. Ela tem mãe, uma mãe que vai ao seu apartamento algumas vezes por ano nas datas comemorativas. Mas ela sabe como é uma relação superficial. Também tem trabalho, ela é assistente social, sai cedo e chega tarde. Não se dá ao luxo de ter tempo pra ela mesmo tendo de sobra: se descuidou a muito tempo, deixou de gostar de si. Os outros também deixaram de gostar dela. Não tem muitos amigos, sai pouco e o tempo entre o trabalho ela gasta em casa. Ha alguns meses atrás, ela arranjou um namorado e tudo mudou. A felicidade momentânea de algo novo preencheu sua vida e tudo parecia finalmente bem.
Parecia. Há uns dias, o que parecia ter ido embora voltou. O choro, a tristeza e com ela a insegurança e a depressão. O suposto namorado a traia enquanto fingia trabalhar até tarde nos finais de semana. Pobre dela, que sempre o achou um homem de brio, um homem honesto. Ledo engano. Trabalhava pouco, gastava dinheiro com bebidas e mulheres, fazia de sua casa, uma pensão. Como devia ser bom ter uma cama macia e um banho quente depois de uma noite com outra mulher e bebidas! Mas ele negava. Negava até a morte que ela era a única e que ele era inocente. Jurava por todos os parentes, por Deus! Até chorar ele chorou.
Mas ele seria página virada. Passou, como tudo de bom na sua vida. Agora, novamente, ela está sozinha em casa sem nenhuma compania além da televisão e do cachorro. Ela chora. Chora pelo cafageste do ex-namorado, chora pela criança no ventre da sua filha, chora pela mãe que ela não conhece, chora por ela. Ela se pergunta porque não ouviu quando seu pai a mandou estudar e não ligar para o namorado que a engravidaria mais tarde. Também porque deixou isso acontecer com sua filha. Filho de peixe, peixinho é. Como ela podia ter deixado sua vida em ruina e não fazer nada? Apenas sentou no sofá e assistiu aquele filme passar. Ela deixou o filme passar. Ela pensa em como a vida poderia ter sido diferente. "Aonde será que eu estaria? Será que mais feliz? Com um mundo nas costas, ela talvez não seja capaz de recomeçar. Ela talvez não consiga sair dali. Daquela tristeza. Ela talvez não possa mais fazer nada além de se resignar com o que lhe foi dado. Ela talvez não possa mais. Só que ela pode. Mas não vai. Ela não consegue mais tentar.
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