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Tão raso quanto fundo.

20.3.11
Os olhares perseguem e atravessam o corpo inerte, o corpo que a pouco fora um Ser com coração pulsante e emoções e nome. Nome esse que fora facilmente trocado, no fatídico instante em que o ar esvaziou os pulmões por uma última vez. Diz-se agora não mais Pessoa e sim objeto imóvel que é denominado por nomes afogados de eufemismos e olhares pesarosos.

Quando a Existência abandona o homem, ele se transforma apenas em lembrança triste, ou histórias a serem contadas, ou nem isso afinal. A vida vai deixando-o nú e em um certo espaço de tempo não passa de restos mortais de um Alguém que passou por esse mundo como uma brisa passa, ou como o breve e brutal encontro da da onda na pedra da costa.

O Viver é curto, complexo e metamórfico. Uma vez criado, não pode-se apagar a sua presença ou a lembrança de seu encontro, independente das relações humanas. O Ser é um momento paradoxal e instável; Ao mesmo tempo pequeno demais para ser eterno e grande demais para ser ignorado.

Estatica

28.9.10

Os sentimentos andam rasos. O amor é fugaz; raiva passageira; bondade desconfiada e felicidade tão profunda quanto uma poça d'água. Quero querer matar alguém. De asfixia ou risadas. Pular da ponte, com certeza. Meu riso largo amarelou, meu choro secou. Não há motivos, é novidade. E ultimamente não vejo necessidade de me gritar por aí. Onde estão meus quereres infinitos! Quero o que eu quiser, de volta. Preciso reencontrar isso que nem eu sei; preciso daquela lâmpada acesa, tão comum de pouco tempo atrás. Minha caixinha de surpresas não sei onde foi parar, nem porque sumiu.

Estou cinza. É necessário esforço para eu mesma notar-me nesse meio de pessoas fictícias, sorrisos de plástico e nervos de bolha de sabão. Onde está meu entusiasmo? Não acredito que toda curiosidade por esse Mundinho correu rio a baixo e perdeu-se, como a areia da praia que foge das mãos. O novo tornou-se mais uma vez desinteressante mas eu mesma não percebi, ou será que me encontro envolvida por uma daquelas nevoas ilusórias que teimam em pregar peças trocando vermelho por amarelo, riso por contentamento e normalidade por marasmo?

Mostre-me um tudo e talvez nós riremos desse mundo com rostos de porcelana e olhos de botão, tão chatos.

Ela não consegue mais tentar.

10.1.10
Ela vive sozinha. A filha, aos 17 anos engravidou e foi morar com o namorado em uma quitinete, e ex-marido sumiu a anos. Ela tem mãe, uma mãe que vai ao seu apartamento algumas vezes por ano nas datas comemorativas. Mas ela sabe como é uma relação superficial. Também tem trabalho, ela é assistente social, sai cedo e chega tarde. Não se dá ao luxo de ter tempo pra ela mesmo tendo de sobra: se descuidou a muito tempo, deixou de gostar de si. Os outros também deixaram de gostar dela. Não tem muitos amigos, sai pouco e o tempo entre o trabalho ela gasta em casa. Ha alguns meses atrás, ela arranjou um namorado e tudo mudou. A felicidade momentânea de algo novo preencheu sua vida e tudo parecia finalmente bem.

Parecia. Há uns dias, o que parecia ter ido embora voltou. O choro, a tristeza e com ela a insegurança e a depressão. O suposto namorado a traia enquanto fingia trabalhar até tarde nos finais de semana. Pobre dela, que sempre o achou um homem de brio, um homem honesto. Ledo engano. Trabalhava pouco, gastava dinheiro com bebidas e mulheres, fazia de sua casa, uma pensão. Como devia ser bom ter uma cama macia e um banho quente depois de uma noite com outra mulher e bebidas! Mas ele negava. Negava até a morte que ela era a única e que ele era inocente. Jurava por todos os parentes, por Deus! Até chorar ele chorou.

Mas ele seria página virada. Passou, como tudo de bom na sua vida. Agora, novamente, ela está sozinha em casa sem nenhuma compania além da televisão e do cachorro. Ela chora. Chora pelo cafageste do ex-namorado, chora pela criança no ventre da sua filha, chora pela mãe que ela não conhece, chora por ela. Ela se pergunta porque não ouviu quando seu pai a mandou estudar e não ligar para o namorado que a engravidaria mais tarde. Também porque deixou isso acontecer com sua filha. Filho de peixe, peixinho é. Como ela podia ter deixado sua vida em ruina e não fazer nada? Apenas sentou no sofá e assistiu aquele filme passar. Ela deixou o filme passar. Ela pensa em como a vida poderia ter sido diferente. "Aonde será que eu estaria? Será que mais feliz? Com um mundo nas costas, ela talvez não seja capaz de recomeçar. Ela talvez não consiga sair dali. Daquela tristeza. Ela talvez não possa mais fazer nada além de se resignar com o que lhe foi dado. Ela talvez não possa mais. Só que ela pode. Mas não vai. Ela não consegue mais tentar.

Epitáfio

23.12.09

Foi engraçado achar essa tira, eu tenho essa dúvida sempre. Se um dia, qualquer dia entre todos os dias, nós podemos de uma hora pra outra simplesmente morrer, então porque passamos a vida toda nos preocupando? Você pode se preocupar com isso durante anos, um dia, quando você esquece e vai tomar um banho, escorrega no sabonete e quebra o pescoço. Nós somos tão frágeis. Morremos por qualquer coisa, seja uma gripe que se agravou ou um maníaco com um arma na mão bem no dia do aniversário da sua tia. Do nada, quando você menos esperar. É por isso que eu acredito em ditados populares, "A morte não manda recado". E não manda mesmo, você pode engasgar com uma batata-frita almoçando com sua irmã no McDonald's. O que levamos dessa vida? Alguma coisa vale a pena realmente, já que dela nem vivo saímos?
Como dizem, a morte é nossa única certeza. E no final das contas, vivemos só para esquecer que um dia teremos que morrer. Fui enganada.