Caos.
Abaixo de seus pés, nada. À sua frente, vácuo. Às costas, abismos. Um turbilhão de imagens, entrecortadas, avulsas, ininteligíveis, pairavam ao seu redor, porém não sabia de onde vinham ou de quem eram, ou de quando eram. Tentava, inútil, apanhar alguma das que pareciam mais sólidas, mas o tato falhava e ela logo se diluia, deixando um rastro madre-pérola no ar por um milisegundo. E esse sabor amargo-indefinido, que não conseguia sentir direito, que parecia ter sido gasto lentamente e se resumia num pequeno rastro semidissolvido que dormia no centro da língua, era estranho. Até agora não o conseguira reconhecer, mesmo que tivesse gasto um instante inteiro tentando desvendá-lo.
A confusão envolvia cada objeto. Alguns flutuavam invertidos, já outros derretiam em pleno córrego. Folhas amarelas brotavam do céu, envelheciam no caminho e chegavam sem qualquer resquicio de vida ao chão, transformando o Nada em um tapete de ilusões e extinção.
Calafrios percorriam sua espinha, mas os membros estavam paralisados, quietos e mortificados. Fora assim por toda uma existência, de procastinação e ímpetos cansados. Falência. Esse vazio estranhamente acolhedor e velho conhecido, agora inundando e tornanando pesado. Como se dentro de sua pele existisse uma escultura de chumbo. E sabia que isso só teria fim quando decidisse o que fazer daquele momento eterno. Estava suspenso, com a mente em queda-livre e os pés enraizados.
Suspirou lentamente, e abriu suas asas.
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4 barulhos :
Parado e preso entre abismos, e desde o começo tinha asas!
Eu estiquei as minhas uns poucos meses atrás e lancei meu corpo abismo abaixo, não sei se alcei voo ou se é só o vento, mas me sinto como um voador de classe.
(Vou estar sempre aqui, lendo e comentando, a partir de agora)
Parado, preso e enraizado. As asas são só úteis quando se tem intenção de usá-las, não? Ao contrário são apenas um belo e inútil adorno.
(obrigado, comentários são o suprimento vital dos pobres blogueiros!)
Eu adicionei seu blog na barra lateral do meu blog. Coloco lá os blogs de amigos e os que eu tenho costume de ler. Tomei a liberdade de escolher uma imagem que combinasse do título do seu trabalho com o que sinto quando leio os textos daqui; espero que não se importe.
Achei a imagem mais que interessante, pra representar o blog. Engraçado saber da imagem que pessoas de fora tem das coisas que eu escrevo. Gostei dessa imagem, tem a ver com o sentimento de catástofre que eu sinto muitas vezes ao escrever.
Adorei estar na sua barra lateral. Retribuí. A minha é muito mais humilde, mas os blogs amigos são os blogs amigos.
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